O grande destaque de Contato é que a especulação tem uma profunda base científica. Carl Sagan apresenta conceitos de radioastronomia e o potencial dessa área da Astronomia para procurar vida inteligente em outros sistemas estelares. Esse é o tema científico cental da obra, mas Sagan também explorou muito sobre o relacionamento humano.
A personagem principal é Ellie. Sua história é contada desde a infância, quando menina mostrava enorme interesse nas questões do Cosmos. Seu pai a incentivava nesse interesse, e como resultado ela era uma criança bem diferente das outras. Sua vida pessoal muda quando o pai morre e a mãe casa-se com um homem machista. Apesar dos obstáculos impostos pelo seu padrasto, que a desmotivava muito com seu discurso machista, Ellie conseguiu entrar na faculdade, tornou-se uma importante pesquisadora na área de radioastronomia e especializou-se na busca de vida inteligente.
Sagan descreve toda trajetória acadêmica de Ellie. Então quem é da academia certamente vai se identificar em muitos momentos. Sagan é sensível e fala da dificuldade que Ellie tem de se encaixar, fala dos rapazes da academia que não sabem se relacionar bem. Ela acaba inclusive namorando um músico, provavelmente porque todos os seus colegas da academia não sabem flertar e não são interessantes para um relacionamento amoroso. Adoro essa parte do livro, pois é uma “virada de mesa” nas questões de relacionamento.
A trajetória de Ellie é contada desde a graduação até quando se torna diretora de um importante centro de pesquisas. Quando um sinal anômalo é recebido pelos radiotelescópios, Ellie acaba liderando uma equipe para monitorá-lo e decifra-lo. E aí entram as questõres relacionadas com opinião pública (muita gente acha que muito dinheiro está sendo gasto) e com interesses políticos e estratégicos, já que na obra, o mundo continua polarizado (URSS x EUA).
Ellie acaba se relacionando com políticos, tendo contato com pesquisadores do mundo todo em congressos (Sagan descreve os congressos científicos com muita fidelidade). Ao longo das discussões, fundamentalistas religiosos se envolvem no assunto e reinvidicam o direito de saber o que está acontecendo. O livro faz um interessante debate de Ciência x Religião, revelando que a oratória e o discurso de um líder religioso pode ser muito mais sedutor do que o discurso científico (e como sabemos disso, infelizmente). Só que Sagan não é Dawkins: ponderado, na obra é possível perceber que ele dá uma importância a experiência religiosa e diria que isso tem tudo a ver com a experiência queé o ápice da história.
O livro foi adaptado para o cinema em 1997, com Jodie Foster no papel principal. Dirigido por Robert Zemeckis, conta também com Matthew MaConaughey (de Interstellar). A propósito, Interstellar tem muito de Contato: possui uma base científica, mas também apela para o sentimental e fantástico.